terça-feira, 16 de agosto de 2011

Resenha: Série "O Guia do Mochileiro das Galáxias"

Para aqueles que vivem embaixo de uma pedra, o mais distante possível do meridiano de Greenwich, em 1978 Douglas Adams criou uma série de comédia / ficção científica conhecida como "O Guia do Mochileiro das Galáxias", posteriormente adaptada para diversos meios, incluindo os livros. Já parte do humor, os livros compõem uma "trilogia" de cinco, se não for levado em conta um sexto escrito por Eoin Colfer (de "Arthemis Fowl".

A série é nomeada pelo homônimo guia, um objeto dentro da história que serve para depositar todo o conhecimento das galáxias, algo como nossa Wikipedia atual. Ainda que contenha muitas omissões e textos apócrifos, ou pelo menos terrivelmente incorretos, é superior a obra mais antiga em mais prosaica em dois aspectos importantes: em primeiro lugar, ele é ligeiramente mais barato; em segundo lugar, traz impresso na capa em letras garrafais e amigáveis a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO.

Para quem já conhece Dawkins, sabe da declarada afeição dele por Douglas Adams. Seu livro "Deus, um Delírio" é dedicado para ele, contendo uma conhecida frase de Adams que, de uma maneira ou outra, define o livro: "Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?". Em "Capelão do Diabo", Richard Dawkins dedica dois capítulos para falar da morte de Adams, que o abalou profundamente e lhe privou de um de seus grandes amigos.


E por que toda essa admiração? Não foi por menos. Em seus escritos, Adams abordou praticamente tudo, desde religião, ciência, política e afins. Essa cobertura de temas é sempre tratada com uma ironia peculiar, para muitos uma das melhores amostras do humor britânico, para outras completo lixo. Bem, não há como agradar todos. Conheço gente que largou a série INTEIRA apenas porque nas primeiras páginas Adams fala de "um homem que foi pregado em um pedaço de madeira por falar que seria bom se as pessoas fossem boas umas com as outras, para variar", ou então a menção de livros dentro da história como "Onde Deus errou, mais alguns erros de Deus e quem é esse tal de Deus afinal?". Mas bem, para essas pessoas, sobra apenas o lamento.

A ciência ganha uma abordagem fantástica por parte de Adams. Somos apresentados a coisas como o Gerador de Improbabilidade Infinita, a Nave Bistromática, o Vórtex de Perspectiva Total e viagens no tempo e por outras dimensões. Claro, as respostas para o funcionamento dessas coisas não faz o menor sentido cientificamente, mas a ideia por trás delas é fantástica. O Vórtex, por exemplo, é uma máquina destinada a punir criminosos, mostrando para ele um vislumbre da infinitude do universo acompanhado de um pequeno ponto, indicado por uma seta como "VOCÊ ESTÁ AQUI".

Aliás, o universo em si é destaque nas histórias. É fato que, como seres humanos dotados de bom senso (na maior parte do tempo), não conseguimos ter ideia de dimensões muito maiores que a que experimentamos diariamente. Então, Adams nos introduz conceitos como o Vórtex e passagens como a que diz que a população e densidade populacional do universo é zero. Como? Ora, se o Universo é infinito em tamanho e a população é finita, e qualquer número finito aproxima-se de zero quando o divisor aproxima-se do infinito, logo a população do universo é insignificante. NÃO ENTRE EM PÂNICO.
Visão conceitual
A leitura dos livros é tranquila e fluente. Não há grandes conceitos complicados, tramas envolutas ou uma miríade de personagens (aliás, há, mas nem todos relevantes para a história). Os cinco livros somam pouco mais que 1.000 páginas. É até bastante, mas compare com as milhares de páginas da série Harry Potter, Torre Negra, Senhor dos Anéis e Duna.

Os livros possuem um tom diferente, a medida que a série vai progredindo. Enquanto os três primeiros possuem um compasso um tanto mais rápido e o fator nonsense está na estratosfera, o quarto livro é praticamente um romance, e há quem diga que o quinto livro faz parte de um universo distinto, usando apenas os mesmos nomes dos personagens. Adams planejava lançar mais um livro para a série, pelo menos para aliviar a sensação de vazio deixada por "Praticamente Inofensiva", mas passou por um bloqueio de escritor conhecido popularmente como "morte" e não conseguiu finalizar. A passagem final do terceiro livro, a última mensagem de Deus para a criação, escrita em letras flamejantes de nove metros, cai como uma luva aqui.

Se você procura por um livro de humor e/ou ficção científica, dê uma chance para a série. Garanto que não irá se arrepender.

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